quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Momento, momento...


Eu só via o sorriso dela.

Ela tava lá. Linda. Vinha em câmera lenta, como num filme, perfeita. Parecia uma fada, um anjo trazendo um conforto bom, um calor gostoso, como o de um abraço. Eu só via o sorriso dela, mesmo que o calor aumentasse com a aproximação.

Eu olhei. Bem nos olhos. Ela olhou, não reconheceu, olhou de novo. Dúvida. Minha e dela. Ela achou que eu fosse alguém conhecido. Eu achei que ela não lembraria. Ela lembrou, eu corei. Ela não percebeu - ou fingiu que não percebeu. Sempre tão delicada, educada. Um misto de ternura e imponência. Ela não era mais a menina que eu conheci. Era uma mulher.

Fui derrotado. Corei, gaguejei, fiquei sem graça. Uma desgraça. Ela veio na minha direção e harpas tocaram em sua homenagem. Eu tinha gente em volta, mas só ela importava. Era incrível. Depois de todos esses anos, depois da vida inteira, ela estava lá.

Fui derrotado. Admiti a mulher. Era ela, valorizada, uma deusa. Eu perdi. Ela podia exultar, podia ser o que quisesse. Eu admirava o sorriso. E ela era bonita, era perfeita - um corpo lindo e um rosto divino. Mas eu queria cada sorriso que ela pudesse me dar. O resto nem importava.

Quando ela sentou na mesa, meu coração pulou. Mas eu respirei. Tudo no momento era importante: sua respiração, seu sorriso, seu encanto, suas notícias. Desfaleci em minha própria mente, me tornei aquele garoto frágil e bobo da escola. Ela estava lá e os valores se invertiam. O momento durou o necessário. Conversas, fofocas e pequenos gestos engraçados. Notícias tristes no fim. Um beijo trocado no rosto. O meu queria mais, o dela era formal (ou não). Pediu pra ligar, eu queria dizer que o mundo que eu conquistei era dela.

Quando ela se foi, o barulho voltou, a multidão surgiu e os amigos me olhavam. Ela passou na minha vida. Mundo pequeno. Mundo maldito. Mundo maravilhoso...