segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Bardo


Ela passeava pelas estradas próximas ao seu castelo, junto de seu séquito de damas e cavaleiros. 
Um belo dia, a princesa encontrou um rapaz um pouco mais velho que ela, cujas canções acalentavam corações e os versos faziam chorar até o mais perigoso dos dragões...
Esse rapaz era um bardo, um menestrel errante.
Ele imediatamente se apaixonou pela princesa, mas esta só queria sua amizade eterna e seus votos de fidelidade.
O Bardo, então, buscou inspiração em suas letras para escrever tudo o que sentia pela princesa. Tamanha era sua inspiração e seu sentimento, que o bardo escreveu uma, duas poesias por cada dia do ano, em todas as estações.
Ele chorava a cada pedaço de papel escrito, e desfalecia a cada pergaminho que enrolava.
Ele desapareceu por um ano, envolto em seus poemas e canções. Até que, no início dos fetivos
festivos para a virada, ele retornou ao castelo e desejou ter com a princesa a sós, como amigo.
Ela gostava do jovem e o recebeu como amiga.
Ele entregou os pergaminhos e disse: "Toma. Aqui tens o livro do meu coração. Lê e me dá resposta dos teus sentimentos por mim".
A princesa leu todas as poesias... Amou muitas delas, mas a cada poema lido, seu coração se entristecia.
O bardo esperou pacientemente no pátio do castelo. A princesa havia voltado e, com ela, o livro de poesias. "Toma de volta", disse ela, com pesar. "Não posso aceitar tal presente de teu coração, pois a ti tenho amores como irmão e amigo. Meu coração a outro já pertence".
O bardo ficou impassível...
Ele a deixou sozinha e levou consigo o livro que tanto se esmerara para produzir. Para esquecer a princesa, o bardo tornou a escrever, desta vez poesias de raiva e tristeza.
Ele escreveu e caminhou para fora dos limites do reino, e então desapareceu.
Anos se passaram até que o bardo reencontrasse a princesa. Ao encontrá-lo, ela viu um novo homem, frio, que ainda escrevia suas poesias. Mas não usava inspirações, nem sentimentos: ele escrevia por escrever, tamanho era seu dom, ou maldição, como ele mesmo chamava...
O bardo havia aperfeiçoado sua escrita e conseguia enganar quem ele quisesse.
Mas o Bardo, o poeta-menestrel, deixara de existir... Ele deixou de amar, pois, sempre que escrevia algo com sentimento, o que ele sentia passava para o papel. Ele perdia todo o sabor da poesia. E deixava de sentir o que quer que fosse pelo alvo de sua inspiração.
E o bardo, com medo de perder todo o amor que sentiu por outras mulheres durante sua vida, passou a escrever friamente...
Esse bardo construiu sua fama, seu dom e maldição... E desapareceu no mundo...