segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A Lenda do Beijo


Era uma vez um beijo.

Assim, era um beijo. Algo sem forma, sem verdade ou mentira. Era um beijo. Uma paixão expressa em lábios, sem rotina ou perdas. Era um beijo só, e só ele era assim.

Esse beijo vivia entre milhares de outros beijos. Ele procurava a boca perfeita, onde ele encontraria o beijo espetacular que combinasse com o seu.

E o beijo saiu à procura de outro beijo pra combinar. Ele voou por todas as bocas, buscando um beijo legal, mas nada. Um dia havia voado sem rumo em várias bocas, provando delas como uma abelha se serviria do néctar das flores. Assim, sem preocupação, o beijo zunia por todas as bocas.

Uma vez o beijo se perdeu em duas bocas. Eram belas bocas, ótimas para um beijo se perder ou morar... Mas os beijos eram frios como a noite, e só tocavam a boca de outro beijo se ela tivesse riquezas inimagináveis. Esse beijo da história tinha princípios, então decidiu seguir em frente e deixar os beijos interesseiros de lado.

Numa outra ocasião, o beijo se deparou com uma boca feia. Ele nem queria entrar lá, mas o beijo de lá insistiu e ele foi. Até que o beijo era bem legal, mas a boca tava péssima e o nosso beijo da história não é do tipo que se deixa jogado em qualquer boca. Decidido a buscar uma boca mais organizada, ele correu mundo novamente. Nem bem tinha saído daquela boca e outro beijo o chamou. Era uma boca normal, mas com belas palavras e promessas de um beijo perfeito. Contudo, quando o beijo foi lá, descobriu que as palavras vinham do beijo, que nada tinha senão poucos conhecimentos do que era ser um beijo.

O beijo, então, foi ficando chateado, triste. Ele não encontrava uma boca perfeita ou um beijo sincero. Ele queria um beijo pra ele, mas estava ficando escasso... Ele mudou de país, buscou outras formas de tocar outros beijos... Mas nada o satisfazia, nada lhe mostrava o par perfeito. Ele até se juntou com um beijo uma vez, para viverem por algum tempo dividindo as bocas.

Até que um dia, numa de suas andanças, ele encontrou um beijo. Lindo. Maravilhoso.

O beijo era tudo o que ele queria. Ele já havia passado por esta boca antes, mas como não havia notado? Então, o beijo era perfeito. Suas bocas mal se tocaram, e eles se encontraram em uma dança perfeita de línguas e lábios, enquanto o calor um do outro era expandido.

Da mesma forma que se encontraram, os dois sumiram da boca um do outro, e o beijo se viu sozinho novamente.

Ele ficou desolado. O beijo perfeito se fora. Ele estava lá, de novo, na condição do beijo solitário, da boca que não achava outra.

O beijo, depois disso, se escondeu para nunca mais voltar. Outros beijos tentaram, mas ele havia deixado sua boca. Era uma boca agora desprovida de beijo, de sentimento. Até um outro beijo pousou ali, mas não tinha jeito com aquela boca, então muitas outras largaram aquele beijo lá.

Dizem que o beijo fugiu na boca daquele outro, e nunca mais voltou.