Antes que comecem a postar bizarrices sobre Robin Williams:
Na internet as pessoas têm uma tendência a julgar ou endeusar pessoas após a sua morte. O Facebook, então, gera essa tendência como um péssimo hábito nas pessoas. Estudando a questão da ética digital hoje, não posso deixar de citar a questão do recentemente falecido ator Robin Williams, por sua piada (infame) sobre o Brasil ter vencido a votação das Olimpíadas de 2016 com "50 strippers e meio quilo de pó".
Primeiramente, é sabida a má-fama do Brasil lá fora. Sabe por quê? Porque é isso que mostramos. Cada vez que escuto uma piada com "hue hue br" ou "isso aqui é Brasil, porra", acabo por lembrar que foi feito um filme chamado Velozes e Furiosos com essa tendência. Polícia corrupta e incompetente, ladroagem explícita e falta de regras. Eu estou sempre recebendo mensagens de amigos meus do exterior preocupados com a situação do meu país. Incrível como nossa visão lá fora é poluída por nós mesmos.
Segundamente, conhecemos também a famosa hipocrisia popular - a qual sempre vem acompanhada da nossa clássica "síndrome do vira-lata". Elevamos tudo o que vem de fora, das desgraças às maravilhas. O gringo vem aqui e todo mundo estende tapete vermelho. Nossa música é a pior, o que tem lá fora é bom. Tem gente que até hoje reclama por Roberto Carlos copiar Sinatra (acreditem, tem gente que faz) e o cara (Sinatra) era fissurado na Bossa Nova. O brasileiro é hipócrita naturalmente, mantém-se dentro desses padrões por comodidade. É do tipo que fala mal do próprio país a vida toda, mas se alguém de fora falar é crucificado - claro, logo após sua morte, pois assim é mais fácil evitar a defesa do acusado.
Robin Williams era um grande ator. Um perfeito comediante. E comediantes fazem piadas com a desgraça alheia. Acha isso ruim? Tatá Werneck e Porchat tem um programa bom sobre isso. Aliás, programas como Porta dos Fundos e Parafernalha abusam desse quesito. E o brasileiro adora - principalmente se fala mal dos outros países. O brasileiro não sabe brincar. Ele gosta de zoar, falar mal... mas não pode receber o mesmo.
Vi, durante a Copa, muitos brasileiros sacaneando os gringos. Tinha até comercial de cerveja nesse nível. O Brasil perdeu e não aguentou piadinha vinda de fora dos mesmos gringos. Se ofendeu, ficou de mimimi, fez beicinho e pôs a culpa no governo da Dilma.
Então, desculpem a minha frase agora, mas é absolutamente ridícula essa postura que adotamos sobre qualquer coisa. A falta de educação se tornou um processo genético, e não mais habitual. E sinceramente não aguento mais isso.
Alguém pode vir aqui dizer que estou escrevendo isso por ser fã póstumo do Williams. Isso seria, gente, uma mentira deslavada. Eu sou fã desse cara desde Popeye (quem sabe agora resgatam esse maravilhoso filme da minha infância). Eu literalmente cresci vendo Robin Williams. Muito da minha postura de palco vem dele, de imitações que posso fazer dele, de tudo o que ele me acrescentou como ator. Se hoje eu amo cinema e teatro, então agradeçam a ele. Eu choro por dentro, por fora. Chorei sozinho ontem, pois essa semana mesmo eu senti falta desse cara nas telas e andava me perguntando quando haveria um novo filme para me emocionar. Eu queria um Professor Keating na minha escola, eu quis um médico como Patch Adams. Meus robôs seriam como o Homem Bicentenário. Eu respirei Robin Williams em tudo o que quis ser quando criança e adulto.
Ele era um drogado? Tivemos nossos drogados suicidas também. A diferença é que Robin Williams não tentava ser algo que não era. Ele era daquele jeito, e você amava ou odiava. Chorão era um cara inteligente também, não se iludam. Às vezes, me pergunto se essa qualidade é uma maldição no mundo em que vivemos.
E eu choro hoje, agora e sempre pela estrela que se vai, mas que vai brilhar pra sempre no meu coração como aquele professor que me fez pensar. O professor que eu quero ser.
Farewell, Captain, my Captain...